A Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), sediada em Curitiba, e a Frísia, com sede em Carambeí, nos Campos Gerais, colocaram em prática um projeto ambicioso para melhorar o plantel bovino de mais de 195 pecuaristas. Até 2025, as duas entidades, com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), entregarão 30 mil genomas de bezerras de até 12 meses de idade, para os produtores cooperados da Frísia. Tudo isso dentro de um programa que elabora para cada pecuarista um Plano de Melhoramento Genético, com potencial para até dobrar a velocidade do melhoramento do genético dos plantéis.
O superintendente da APCBRH, Altair Antônio Valloto, explica que a associação entra no projeto com a análise, avaliação do perfil genômico dos animais e, juntamente com os produtores, elabora o plano de melhoramento genético em si. Para isso, usa uma análise genética sofisticada, feita em parceria com a Genetic Visions, empresa contratada no projeto para a realização da genotipagem dos animais. Além disso, para traçar esse plano também usa dados que já têm, baseado nos serviços que presta, como registro de animais, controle leiteiro, classificação para tipo e resultados de saúde de animais. “Outro aspecto importante a ser levado em consideração são os resultados da genética tradicional dos rebanhos, se houver", completa Valloto.
O gerente de Negócios Bovinos na Frísia Cooperativa Agroindustrial, Jefferson Pagno, compartilha que a ideia de implementar esse projeto em conjunto com a APCBRH surgiu em reuniões da cooperativa e foi validado por um estudo técnico, que embasou sua implementação. Além disso, a iniciativa está dentro do escopo do Programa Mais Leite Saudável, do Mapa, um conjunto de medidas que concede benefícios a empresas que adotem ações vantajosas aos produtores e à melhoria na qualidade do leite.
“O objetivo da Frísia é fazer com que nossos produtores evoluam usando as ferramentas disponíveis com o genoma e ganhar tempo, velocidade no progresso genético. Com o projeto, temos a expectativa de fazer melhoramento em três anos, que normalmente levaria cinco ou seis anos”, calcula. “É importante dizer que a APCBRH faz todo o plano genético, direciona o reprodutor, mas a decisão final sobre o que fazer é do produtor”, enfatiza.
Passo a passo
O projeto entrou em operação em 2022 e tem previsão de seguir até 2024. Até março de 2023, já eram conhecidos os resultados genômicos de 17 mil animais, como revela Caio Cesar de Godoi, supervisor da Equipe Técnica de Leite da Frísia. Os planos iniciais já foram entregues a uma parte dos produtores, mas o trabalho segue a todo vapor para que as análises avancem e seja possível cumprir as próximas etapas do projeto, até chegar à marca dos 30 mil genomas.
No início do projeto, os produtores que tinham interesse em participar tiveram um prazo para aderir à proposta. Então, agendou-se com os interessados a coleta de material genético dos animais, para ser enviado à Genetic Visions. “As coletas abrangem apenas animais jovens, não focamos nos animais adultos, ou seja, nós priorizamos a genética futura, que vai entrar no leite daqui a um ou dois anos”, explica o supervisor técnico.
Para fazer a coleta, retira-se um pequeno fragmento de cartilagem da orelha do animal, de onde é extraído o DNA, e após se faz a leitura do genoma. Também são coletadas informações como data de nascimento, quem é a mãe e o pai das novilhas. “O genoma é extraído e enviado a um laboratório nos Estados Unidos, para fazer avaliação genômica, identificar genes e fazer comparação com base genética americana", diz Caio.
Com todo esse trabalho, que envolve análises internacionais, o material volta ao Brasil, com dados e informações que permitem saber qual é o potencial genético de cada animal, para características como produção, saúde, fertilidade e conformação. “Com tudo isso na não, a APCBRH faz um diagnóstico, senta-se com o produtor, tira dúvidas, define algumas características que são importantes para a propriedade e que precisam ser melhoradas. Essas características entram no plano genético, ou seja, define-se quais os focos de seleção de touros para o melhoramento”, ensina Altair Valloto, superintendente da APCBRH.
Ajuda na tomada de decisão
O supervisor técnico da Frísia, Caio Godoi, elenca outra vantagem importante de se ter um plano de melhoramento genético: assertividade na tomada de decisão. “Sabendo quais são os melhores animais no rebanho, é possível, por exemplo, utilizar sêmen de melhor qualidade e sexado (para nascimento de fêmea) nos animais melhores. Nos animais intermediários se usa o sêmen convencional, para ter 50% de fêmeas e macho. E nos animais inferiores, vai decidir o que vai fazer, se vai usar como receptora de embriões de melhor qualidade ou até mesmo fazer cruzamento com raça de corte para utilizar animais para outra finalidade, que não produção de leite”, simula.
Nesse ponto, Godoi reforça que o plano é um guia que torna possível acelerar o melhoramento genético de um rebanho. “Sem isso, uma propriedade tem animais nascendo a partir de todas as fêmeas, de melhor e de pior qualidade. Quando se analisa o genoma e se começa a proliferar animais superiores, a tendência é de melhorar a genética para cima e de forma mais rápida”, crava.